quinta-feira, 21 de abril de 2011
terça-feira, 22 de março de 2011
terça-feira, 15 de março de 2011
Um duelo ao pôr-do-sol
Dois homens que se encontram. Dois mundos que se cruzam. Como num filme. Sem psicologismos. Sem teatro. A reinvenção da sobrevivência através da Palavra. Cada um encontra no Outro a razão da sua permanência ali/aqui. Duas vidas jogam-se no silêncio da espera. Nunca se perceberá quem é caçador e quem é caçado. Neste jogo é vital não perder o argumento. A Palavra mata!
Um exercício sobre o não teatro, levando os actores à procura de um tom em que cada frase dita, resulta apenas do prazer de não se deixar matar. A capacidade de especular sobre cada momento na busca da energia para aguentar o combate no momento seguinte, é o que mantém a Vida. Tudo pode ser verdade e mentira. Tudo hoje é verosímil, tudo é espectacular. Já não nos aguentamos sem máscara…
Jet Lag e Check In são, afinal, dois actores numa luta pela sobrevivência.
Regina Guimarães e Saguenail criaram uma obra teatral densa, “escondida”, estilo “quebra-cabeças” que obriga a um profundo e aturado trabalho de experimentação dramatúrgica com os actores. Sim, se é verdade que todos os espectáculos precisam de dramaturgia, este texto exige-a! Impõem-na como um exercício lúdico. É, neste caso, mais um jogo de vida, mais um duelo entre os dramaturgos, dum lado e encenador e actores, do outro.
Partimos para a encenação experimentando o texto no corpo dos actores, explorando uma proposta que conduza os espectadores a uma situação de tensão, como num filme de suspense. Queremos que a dúvida se instale sobre os personagens, o que fazem ali e o que pretendem.
Rui Madeira
O Processo
Partindo de uma hipótese, de um pressuposto, o texto ganha contornos não imaginados. Alia a sua excelência à argúcia da dramaturgia.
A diferença entre o que se entende e o que se subentende acompanha todo o processo de trabalho, que tem como base a sinceridade da relação entre as duas personagens. O não representar!
Como na vida, a palavra esconde significados que não se revelam numa imediata abordagem. Assim, o intenso trabalho de experimentação, orientado sempre para que haja um entendimento claro da, como diz o encenador, “ cabeça das personagens”, vai aprofundando intenções e suportes para que os actores se sintam livres e para que possam jogar com o texto como se ele fosse um puzzle, que ambos têm que construir. A atenção ao outro é, então, aqui, uma necessidade constante como forma de sobrevivência. É esta atenção, esta entrega, que vai revelando as razões pelas quais a palavra é dita, e ganha vida fora do papel. Não é por repetições. Não é por aproximações. É partindo de um conhecimento geral que o particular, na multiplicidade das suas interpretações, se pode desenrolar não perdendo nunca o objectivo final.
É uma encenação de “formatação das cabeças”. Todavia, é de liberdade que falo. É do princípio básico da instrução humana, que corresponde à partilha de informação, por forma a que o indivíduo possa, sozinho, elaborar raciocínios. Pensar.
E é devido a esta liberdade que digo, apropriando-me agora das palavras do encenador – “Isto é tão bonito!”
É tão bonito trabalhar!
Há um prazer constante nesta descoberta de caminhos possíveis. Há um prazer constante no reconhecimento do que pode vir a ser.
A entropia é motivante. Cria um estado de alerta permanente, absorvendo os mais pequenos sinais, que são fundamentais ao equilíbrio.
Solange Sá
TRANSIT
TRANSIT é um texto que começa a abrir caminho no aeroporto de Milão, numa daquelas situações de black-out informativo em que nem se parte nem se sabe quando se vai partir. Para resistir à fúria, praticam-se pacatos exercícios de observação: cartazes, painéis, sinais, montras, carrinhos, fardas, bichas. Repara-se então nos mínimos e nos máximos de sobrevivência que o aeroporto oferece, desde cigarros e pastilhas elásticas até casacos de arminho e massagens VIP. Repara-se nas pessoas: os que andam perdidos, os que avançam em piloto automático, os que parecem solitários, os que têm ar de pessoa colectiva. E surgem, antes de tudo, os nomes dos dois protagonistas, JET LAG e CHECK IN, como se os nomes fossem a caverna e os tesouros, os ladrões e o abre-te sésamo. De súbito, torna-se óbvio que os tijolos da construção que a cabeça se atreve a erguer, ainda sem alicerce, se inspiram na massa de semelhança entre a pequena cidade aeroporto e a cidade securitária formatada pelo neoliberalismo. Assalta-nos a recordação inolvidável das reuniões da Câmara Municipal do Porto em que o cidadão distraído pode descobrir o «projecto de cidade» que lá se trama – feita de falsos hotéis de charme, spas new age, mais parkings do que parques, restauração rápida disfarçada de gourmet, e bué da lojas de griffe... – é tão-só uma cópia a céu aberto (?) dos corredores de aeroporto. E são essas estudadas parecenças, a par dos terríficos sentidos de que são portadoras, que nos convencem a não deixar a «peça» nascente no lixo do devaneio.
De que maneira a luta de classes se manifestaria no espaço confinado e videovigiado de um talk show televisivo? É a esta pergunta que encarregamos JET LAG e CHECK IN de ir respondendo, dotando-os da possibilidade e da vontade de criar rompimentos, de furar o aquário onde asfixiam com a ponta acerada das suas pequenas e grandes raivas.
TRANSIT foi-se escrevendo, via correio electrónico, entre o Porto e Calcutá. É um objecto do qual gostaríamos que se conservasse a estranheza (também de o termos levado a bom termo) e o peso paradoxal do improviso (ping-pong entre autores e entre personagens, os primeiros distantes, mas próximos; os segundos próximos, porque reunidos pelo espaço improvável da representação, mas irremediavelmente distantes). Será possível um objecto em palco manter-se em trânsito?
Regina Guimarães e Saguenail, Março de 2011
Biografia dos autores
Regina Guimarães (Porto, 1957) e Saguenail (Paris, 1955) vivem e trabalham juntos, na cidade do Porto, desde 1975. Hélastre é o signo da sua obra comum. Ambos leccionaram longos anos na FLUP e, pontualmente, noutras instituições, tais como a ESAD, a ESAP e a ESMAE. Foram fundadores e redactores da revista a Grande Ilusão; colaboraram no colectivo PREC. São activistas da Associação Os Filhos de Lumière, e fundadores do Centro Mário Dionísio / Casa da Achada. Além de inúmeras produções, algumas multidisciplinares, resultantes da iniciativa individual de cada um dos autores – nomeadamente nas áreas da Poesia, do Cinema, do Vídeo, da Crítica, da Escrita de Argumento, da Tradução, da Pedagogia, da Canção etc. –, têm prosseguido uma obra em parceria nos domínios do Documentário e do Teatro.
quinta-feira, 10 de março de 2011
Sinopse
Algures no lounge VIP de um grande aeroporto duas pessoas cruzam-se. Estão em Transit. Numa atmosfera de aquário, de luz coada, reinventam o discurso com que se alimentam. Jogam o jogo do gato e do rato, na espera do voo da morte anunciada. Ecoa o bulício longínquo do aeroporto. Num sofá king size rosa carne de design arrojado, separados pelo espaço das almofadas, estão dois homens sentados… Jet Lag, cerca de 60 anos e pose dandy e Check In, com 30 e poucos, talvez demasiado flashy, talvez mesmo um pouco kitsch… tentam ganhar o tempo que se lhes escapa na busca da caça.
Como num filme, duas cabeças jogam mais um jogo da Vida.
108ª Produção
Transit de Regina Guimarães e Saguenail
Encenação: Rui Madeira
Assistente de encenação: Solange Sá
Actores: Rogério Boane e Waldemar de Sousa
Espaço Cénico: Carlos Sampaio, Solange Sá e Rui Madeira
Figurinos: Sílvia Alves
Figurinos: Sílvia Alves
Desenho de luz: Fred Rompante
Espaço sonoro: Luís Lopes
Criação vídeo: Frederico Bustorff Madeira
Criação gráfica: Carlos Sampaio
Fotografia: Paulo Nogueira
M/12
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