terça-feira, 15 de março de 2011

O Processo

Partindo de uma hipótese, de um pressuposto, o texto ganha contornos não imaginados. Alia a sua excelência à argúcia da dramaturgia.
A diferença entre o que se entende e o que se subentende acompanha todo o processo de trabalho, que tem como base a sinceridade da relação entre as duas personagens. O não representar!
Como na vida, a palavra esconde significados que não se revelam numa imediata abordagem. Assim, o intenso trabalho de experimentação, orientado sempre para que haja um entendimento claro da, como diz o encenador, “ cabeça das personagens”, vai aprofundando intenções e suportes para que os actores se sintam livres e para que possam jogar com o texto como se ele fosse um puzzle, que ambos têm que construir. A atenção ao outro é, então, aqui, uma necessidade constante como forma de sobrevivência. É esta atenção, esta entrega, que vai revelando as razões pelas quais a palavra é dita, e ganha vida fora do papel. Não é por repetições. Não é por aproximações. É partindo de um conhecimento geral que o particular, na multiplicidade das suas interpretações, se pode desenrolar não perdendo nunca o objectivo final.
É uma encenação de “formatação das cabeças”. Todavia, é de liberdade que falo. É do princípio básico da instrução humana, que corresponde à partilha de informação, por forma a que o indivíduo possa, sozinho, elaborar raciocínios. Pensar.
E é devido a esta liberdade que digo, apropriando-me agora das palavras do encenador – “Isto é tão bonito!”
É tão bonito trabalhar!
Há um prazer constante nesta descoberta de caminhos possíveis. Há um prazer constante no reconhecimento do que pode vir a ser.
A entropia é motivante. Cria um estado de alerta permanente, absorvendo os mais pequenos sinais, que são fundamentais ao equilíbrio.

Solange Sá

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